A vitória de Hollande em França trouxe consigo uma onda de esperança relativamente à forma como a Europa poderá passar a encarar a crise, sobretudo entre a esquerda dita moderada europeia.
Neste sentido as preocupações da Sra. Merkel, o discurso do vitória do senhor, a pluralidade vista na noite da vitória na Bastilha e o reconhecimento explícito da existência de um sistema financeiro disfuncional são, a meu ver, bons sinais por princípio.
No entanto, estou relativamente céptico quanto ao real impacto da eleição de Hollande na alteração estrutural do rumo que leva a Europa. Receio que Hollande se possa tornar numa espécie de Obama "menos sexy" e à Europeia, no sentido em que poderá ficar na prática muito longe da expectativa criada.
A este propósito recordo o artigo do Pedro Adão e Silva do passado fim de semana no Expresso, com o qual concordo plenamente. A verdade é que enquanto a direita tem uma ideia super clara da sociedade europeia que quer construir, e do sentido das alterações económicas e sociais que quer implementar, a esquerda moderada, sem esta visão clara da sociedade que pretende (e sem os modelos de leste que ajudavam a definir o que se queria e não se queria no ocidente, acrescento eu) andou nas águas turvas das 3ª vias, contribuindo activamente para a criação do ambiente institucional à escala europeia que permitiu chegar-se aonde se chegou - criação do euro e dos mecanismos que lhe estão associados, liberdade de circulação de capitais, abertura (selectiva) aos mercados externos à UE, etc.
Será que Hollande está disponível para por em causa este caminho que as sociais democracias europeias trilharam?
Hollande poderá constituir um enorme flop, mas pode ser que me engane.